Sereias Desvairadas: uma história inspiradora

Você sabia que uma das primeiras vias de escalada conquistada por mulheres no Brasil foi em uma ilha aqui no Rio de Janeiro?

Enquanto batiam o último grampo do Paredão Lilith (1987, morro dos Cabritos) Kátia, Lílian e Valéria olharam pro horizonte e avistaram seu novo objetivo: as ilhas Cagarras.

Não demorou muito para que procurassem Simone Duarte, experiente remadora e proprietária dos caiaques que as levariamà Ilhas.

Depois de breve iniciação à canoagem, Katia, Lilian, Simone e Valéria iniciaram a conquista de uma das mais icônicas vias do Rio de Janeiro e um marco na escalada feminina brasileira: a Sereias Desvairadas.

A conquista começava na praia de Ipanema, de onde elas saiam com os caiaques
carregando todo materal da conquista.

Chegando na ilha, era preciso se secar, trocar de roupa para que, secas, começassem a escalada.

A história é repleta de fatos curiosos(incluindo os que originaram o nome da via): perda de
material e todo tipo de aventura que uma façanha como essa pode proporcionar, incluindo quedas.

Após a fratura do pé por causa de um queda na conquista, Kátia fica impossibilitada de participar das investidas seguintes e Teresa Aragão se junta ao grupo.

A via foi finalizada em março de 1988, entrando pra história da escalada brasilieira.

Katia, Lilian, Simone, Valéria e Teresa não tinham idéia do tamanho de sua conquista e influência em todas as gerações de mulheres escaladoras que as seguiram.

Na época, eram poquíssimas as mulheres escaladoras e, as poucas que existiam, escalavam sempre acompanhadas por homens. Pouquíssimas guiavam. O simples fato de mulheres sairem juntas para escalar (sem a presença de escaladores homens), era motivo de espanto e certo desconforto.

Um via conquistada somente por mulheres, naquela época era salto gigantesco.

Felizmente, existiram e existem mulheres como elas, que não se deixaram abater e
seguiram em frente, derrubando barreiras, destruindo paradigmas e conquistando não só vias, mas espaços fundamentais para a vida e imaginário feminino.

À todas elas, nosso muito obrigada!

As fotos utilizadas nesse texto são do acervo das conquistadoras e foram obtidas através de matéria publicada no jornal Extra e exibidas durante live no canal do Centro Excursionista Carioca.

Os croquis do “Paredão Lilith” e da “Sereias Desvairadas” e estão disponíveis na croquiteca do CEC.